domingo, 3 de maio de 2015

MARIA


Ouço sempre de uma mulher forte, que manejava armas
(E vejo-me frágil, sem coragem, seu colo por miragem)
Ou virtuosa cantora que pintava de cores e flores o pó da lavoura
Salvadora curandeira, de seres sem futuro
Guardiã da família, envolta num muro
Duro, inexpugnável, seguro.

Descurou todavia esse mal em seu peito
A dor que assolou o seu leito, vazio
O frio, de mim. Vertigem do fim.

Maria. Nome excelso, sem salvação.
Revolta. Sem volta. Culpa.

Poder reescrever um caminho de aura leve, contemplando-a no horizonte.
Poder ser o maior dos heróis olhando-lhe a face de água cristalina
(porque me terá dado seus genes sem medo)
Poder seguir sem olhar para trás, confiante, audaz
Saber de um porto de primordial embarque,
Raiz de uma alma. Sentido de tudo.

Antes isso do que a deriva sem fim, esta ausência em mim
Mãe, que palavra tão fria, que noite vazia.
rodriguez2015

domingo, 22 de março de 2015

capítulo quarto

4. nunca mais será igual o azul do mar e do céu. porque sempre que olhar o imenso cerúleo espelho de olhar, a palidez a encontrar uma ruga suave e sábia. azul pálido como daquela vez em que sentiste a saudade pela primeira vez. era uma madrugada lânguida. era uma primavera outonal, um tormento de peito cerrado. E então será um retorno. Mas um retorno de leve sorriso multíscio, de dor que se aceita e se devora e se toma como amiga confidente.

Sabes que a alvorada é agora inata, tomas um gole de Brandy realizado. danças o que não se perde em fatuidade, degolas a imprudência vã, com uma espada de subtileza feita. és tu. Mesmo de vulnerabilidade. Mesmo de incerteza na palavra, no ato, no esgar. E bebes as rosas ainda assim. Como se uma borboleta rubra numa noite sem céu te fosse indiferente. Mas não é. e as rosas também não.

só. Ouves melodias sérias, coisas com valor estético, pouco ético. Sentes o sangue fervente num romantismo crescente. Melancolia maldita. O branco físico não condiz. O rubro intenso atormenta, fere, excita. Dilema.

é a hora da redenção, um tempo de perdão. algo mudou. mudou a cor do céu e do mar. o sol ainda queima. As lágrimas são agora verazes. Porque sapientes da ironia da tragédia. Mas respiras. Sentes o caminho a percorrer. A esperança nas rosas. O rubro que não morre com a insanidade dos anos da eterna juventude.

e chegaste ao limite da consciência vã. já não há motivo para receios, para matinais anseios sob jugo do olhar alheio. és tu. os erros vão sempre repetir-se ao sabor do incenso das flores malditas. Um olhar claro e vivo que te vigia, sempre magnético e jamais te abandonou. o primeiro beijo que nunca morre, nem na imensidão do azul pálido do céu. o acerto que procuras numa canção que é paranóica. 40. nada mais.


Lembras-te quando caminhavas descalço pela eira que sabia a milho seco… chão rugoso e julgavas ter diante de ti o infinito? Agora caminhas pela cidade gigante de fumo obscuro. Há infinito em ti, porque o incenso maldito continua no teu encalço.

(rodriguez2014)

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

SAUDADE


Volta espuma negra que consome o peito agora lembrado do passado ofuscante e sufocante onde pássaros negros de cores rosadas dançam por colinas que são sábias que são altas próximas do além uno

E o sentimento de saudade a saudade sempre quente mas esquecida da felicidade efémera e melancólica Sempre serei esgar dessa espuma vulto curvado oriundo da terra que é feita de mágoa dobrada de água

Olho perco a olhada num tempo eterno de madrugada nocturna e soturna sentindo o fundo do peito cada vez mais perto porque aberto desperto ameno calor noite de amor esquecida na lua perdida

A vida que fura por entre devaneios obtusos dormentes gestos sonhos lestos

Arestas de amor feitas de letais vértices de dor amargo vaguear

E à noite durmo por entre pontos curvos pintados sonhando ter encontrado enfim

Assim

Como este som grave autocarro de almas que não querem ficar aqui

Neste tempo

Tormento

Lento

Volta.
(rodriguez (rew.) 2014)
https://www.youtube.com/watch?v=3FzM_XrgtPo

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

ÉTERNEL SOURIRE


À chaque mot dévoilé sur les tables de vin

S’inscrit d’un coup un heureux sentiment

Coeurs, amours, amitiés oubliées

Sincères pièges attrapant des sourires

Soupirs…

Malheureux sentir qui se precipite dans la nuit

Petit à petit…

On oublie la nuit.

On gagne un nouveau jour, nouvel amour.

On attrape le soupir de l’avenir.

Chassant le sourire, l’éternel sourire…
(rodriguez 2014)

segunda-feira, 21 de julho de 2014

CASARIO AMARELO NUMA TARDE QUIETA

 

Casario amarelo numa tarde quieta, mordendo vistas que fogem para o mar Azul 
 
E eu sinto um peito agreste como o feno bravio que um dia te afagou a pele nua
Altares, amores, melancolias claras, temores, ensejos 
Mais de um século numa noite efémera
Sempre bebendo palavras que são tuas, são tuas
 
Peles nuas numa aurora celeste que ainda não há 
E é um manto negro com cores vivas misturadas num fumo doce que me enleia 
Não tenho visto o teu sorriso ultimamente e dizes-me 
Sossega amor é silêncio de ausência física, porque o meu corpo anseia pelo teu 
Sossega, amor, sou tua e és meu 
Periclitante crente na aurora fria em que contemplo uma aparição divina 
Tua silhueta magnética 
Meia hora de abraço como é doce teu toque, como é macio teu cabelo negro 
Teu cheiro a água de lima numa cidade cosmopolita europeia 
E sou feliz. E não mais partirás…
(rodriguez 2014)

quarta-feira, 19 de março de 2014

PAI


Sentido que procuro numa espera eterna, até à morte terna
Imagem que se esbate numa era que não passa.
Hoje sinto-te longe, mais que nunca, ó Pai
(e queria-te aqui perto)
Quem és e que ser foi este que criaste,
Tão triste…
Tão sombra de ti, tão lágrima que ferve
De saudade feroz
(revolta pelo tempo vazio da tua voz).
Serás canção de embalar, de calor de luar
Sentido, doce abrigo que procuro, louco, nesta hora
Na memória que roubei ao sonho.
Faltam-me teus relâmpagos que nunca vi
Teu esgar severo que jamais senti
Teu abraço protetor, teu manto de amor…
Ó pai! gritar ao mundo teu nome, chamar-te bem alto!
Correr, contemplando teus braços alados,
Voando no vento ansiosos, orgulhosos
De mim.
Pai.
Palavra que fere. Vazio cansado de si.
Amargura, pai.
Devolve-me ao menos a lembrança da canção que me cantaste um dia,
Sentado em teus joelhos secos, feliz pelas histórias que nunca me contarias.
rodriguez 2014

domingo, 9 de março de 2014

PALINGENESIA V (Vénus renascida)

Seguia por entre os pinheiros a cheirar a pinho molhado, uma forma de deambular o odor de um outono reminiscente de melancolia fria, distante incessante. Era seminoite, uma urna na memória, um fosso no peito, pronto a recebê-la. Sempre ofegante, sempre diante do abismo que não tem fim, um monstro que me atormenta dias e dias e noites. Às vezes é cego meu lamento, outras, desço pela porta entreaberta do fosso, querendo dormir, querendo partir. E é sempre fosco meu horizonte. Sempre terna todavia minha melancolia.
Quando o riso efémero entrevê esse lado terno, mistura-se o peito com a vontade e a aura de rosas rubras, sempre rubras, sempre curvas ascendentes buscando sol, luz de umas mãos macias, carícias maternais que não voltaram mais, porque tão pouco estiveram…
Então é tempo de um novo acordar, peito cheio de ar, mãos altivas, tristezas cativas. Sente-se o perfume de uma nova era, épica, luminosa, vertiginosa. A angústia severa desiste, o coração resiste ao medo, como num doce segredo, navega em mar sereno, com gaivotas em terra.
Mas devo voltar ao porto em breve… e as gaivotas estão lá. E a tempestade é cruel, crua, nua de rosas. E retorno à floresta de pinho, à porta do ocaso, desço, de sentimento cheio de esperança na desilusão, é doce, é terno, é já inverno. A última agulha do pinheiro mergulha numa atmosfera fria, esvoaçando até minhas mãos vazias. Carícia derradeira. O nada que eu sou ali transformado num momento sublime de ausência.
Como naquela tarde em que vi teus lábios rubros dizer teu amor… como naquela noite em que me deitei sob teu manto de céu estrelado.
(rodriguez 2014)

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

O CLUBE DOS PRAXISTAS MORTOS

Lembro-me de num dia de boémia coimbrã ter salvado um caloiro de corte de cabelo trendy de ser “tosquiado” por uma “trupe” de doutos veteranos, cujo ofício, diziam, era salvar as mentes irresponsáveis da má vida, integrando-os numa academia que acolhe os seus novos membros com penitência em prol de um curso sadio. Senti-me orgulhoso por ser um “quartanista” de esquerda, que ousou enfrentar o código ancestral da praxe, além, claro está, de ter ganho uma noite gratuita de copos.

Gostava em geral dos hábitos académicos oficiais e suas artimanhas mais ligeiras. Sentia-me vaidoso de traje académico vestido, capa bem proeminente em seus símbolos rigorosamente contados e colocados, nada de exageros como aqueles que até da Renault colocam emblema. Os dias de Queima eram um desfile de orgulho em tons negros, e a praxe em seu código o alicerce ancestral dessa vaidade.

O Pratas era o nosso clube, os jardins da AAC o passeio da fama, a faculdade o santuário… a Sé Velha o local do culto. Quando se recebiam caloiros, bebiam-se copos de traçado, cantava-se o fado mal cantado, o Eferreá… as caloiras mais bonitas eram galanteadas e os caloiros mais antipáticos pagavam o traçadinho. Era assim a praxe no período pré-recessão.

Hoje vivem-se tempos onde um fado mal cantado não é ritual altivo. Aldeia mais global espalha hábitos zuckerberguianos entre as hostes rebeldes urbanas ou simplesmente mais atentas. Crise de contas, comércio e valores profundos. Mundos que colidem em busca de uma nova harmonia, ou a História a escrever as suas linhas em capítulo trágico. Juventude à toa, sem porto, sem farol, sem futuro… perdeu a vaidade pura, de um dia ser alguém, enquanto passeia o traje escuro em ruas cinzentas.
Mais vale ser vaidoso porque reinventou o conceito-estatuto de estudante universitário: sem sombra de horizonte, sequela rentável e adulta de licenciatura, o jovem teme de morte o vazio que se avizinha após o Mestrado-Bolonha. Então, com razão, o estudante vaidoso torna-se praxista, empresta conteúdo e substrato ritualista à neo-cultura da praxe. Como se fosse a sua vida feliz última, toma-a nas mãos e quer torna-la dourada. Hiperboliza então aquele como o único lugar de felicidade. Autêntica Babilónia de sentidos à mão de eternizar, a Universidade torna-se paralelamente num antro sociológico de conhecimento sem filtro, sem regras, sem os valores de outrora. Saberes ao serviço de prazeres derradeiros.

Surge o “Clube dos Praxistas Mortos”, membros “sagrados” de um culto novo, cuja vertigem do abismo típica de qualquer sociedade secreta, tem efeitos imprevisíveis. Assim se interpretam os acontecimentos recentes da praia do Meco, acho eu…
(rodriguez 2014)

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

ENTROU NUM VALE NEGRO PINTADO



Entrou num vale negro pintado de folhas semimortas de dor aspirada a quem passa num pranto irascível e lento
Sempre amparado pela bruma resplandecente de brancura fina e pura Entrando num mar aberto à loucura forçada
Chegou, cegou. Embaraçou um passo compassado, quase marcado pelo extremo pesar mas não cedeu
Reergueu então a fronte defronte de um céu quase rubro desembainhando a pena e assinando o monte onde outrora observara com temor o maior dos monstros
Acordou então sentado no lado deserto do leito. Sonho tardo, fardo que pousa a seu lado agora que lá fora já a turba ofusca o paraíso olvidado.
Jornada alada. Sempre irá cursar sempre e sempre.
Foi assim que pensou levantar mais um dia. Aquele dia onde os olhares temerosos se tornaram odiosos
- gostas de mim? – Não
Mas gostas ou não, não
És má - gosto de ti
Mas amas-me?
Amo-te muito,
Mas os olhos são esquivos como quando comi o chocolate que custava dinheiro e menti a olhar para um ponto que não fixei
E contento o peito com os pontos não fixados dela, crente que sim
Mas o brilho é sumido e o coração permanece dolorido
Ansiando por toque macio que consola a dor, alimenta o amor, regresso ao vale diante do acervo terreno repleto agora de um feno ameno
Para esgrimir a minha pena diante da eterna melancolia
Que um dia
Metamorfose com toques de magia, ainda que sombria
Direi basta ao maquinal torpor.
 
Serei inexorável e molesto diante do Amor.

segunda-feira, 18 de março de 2013

AR - - -

Um dia passo pelo passado sem rosas para espalhar, serpenteante pela bruma aguardando Salvador. Ermo de arco-íris, passeante do nada, numa estrada de orvalho gelado à espera eterna de um raio.
“Receios de trivialidades esquecidas”, amores perdidos coração negro como foi Um dia. Virá uma mão suave branquear o esgar de olheiras. Sentimentos à toa. Gastando tempo que não volta, mesmo na volta da poeira da Primavera. E o oxigénio é sempre tão pouco, escasso despojo de vida, luz opaca, cegueira, tormento, morte, má sorte. Às vezes dói, às vezes dói...
 

 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

POST



III

Regresso à claridade aparente de um presente. Dia onde a memória me atraiçoa uma vez mais. Soma maquinal de jornadas monótonas. Nem tudo é fundo, nem tudo é incerto. Pedaços de sombra rosada pintam meu acordar em certa alvorada. Por isso espero ressuscitar-te, homónima figura, transferir tua ternura outrora insondável para uma nova era.
Vou abraçar-te um dia num choro eterno de acalmia. Sentir teu rosto seguro acenando amor puro e merecido. Agora é cedo. 
IV
Amanhã mergulho na turba sem memória e reflito uma vez mais luz escura. Palpo terra suja numa eira que devia ser alaranjada e incómoda para pés descalços. Choro. Fixando o chão enlaçado por raízes adormecidas, revejo tua aura desconhecida, espectro de vida.
 
V (mãe) 
Recorro à tua figura semiobscura. Como um travo de doce amargura, mesmo doce. Depois ouço a voz fraterna a indicar-me o caminho, nem sempre guardado por anjos que semeiam flores. Às vezes é vaga e escassa a luz que incendeia o breu invencível. Às vezes cheiro o pão dourado pela brasa de uma infância quase esquecida, mas desejada. Os pés frios persistem, mesmo se as botas de borracha gélida se esboroaram no comboio dos anos. Antes mais quentes.
 
 
VI
A saudade da saudade de ti, mãe. Hoje te invoco sem pudor, anseando pelo teu amor também dourado, teu peito seguro. Outro caminho teria seguido, não fora tu teres partido sem que ao menos tua mão áspera me tivesse acenado outro caminhar. Às vezes toco tua face que nem sequer existe. É sempre um sonho feliz e triste.
 
rodriguez 2013

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

ANIVERSÁRIO

I
(Roda gigante na vertigem do abismo que cresce numa frequência pausada mas certa. É o correr de mais horas de rotina agridoce. Numa hora ternura, noutra ilusão, noutra dor)A vida ainda há pouco tenra endurece como o pão que não comemos há três dias, depois é pedra, mesmo que o coração prevaleça mole. As repetições diárias têm sempre um toque novo, porque um emergente traço de luz invade o reflexo de olhos gastos pelo foco eterno.
O raio de luz que faz girar e respirar de ânsia a cada dia que passa, num café matinal ou num gesto de delicada sinceridade. Depois a turba lenta que volta, dormente, entre telefones e carros vibrantes que se disparam apressados e cansados. Sempre como numa obrigação eterna, num sacrifício, uma maldição de rara liberdade.
II
Flores que lembram vidas que foram jovens e vibrantes, agora memória quase esquecida colorida, antítese de vida. Melancolia sombria num peito prensado, falho de raiz, referência maternal. Mãe. Repousa na terra como semente estéril, fecunda de memória infeliz, de vulto ausente que sussurra saudade. Sinto a tua falta, de ti, quem nunca conheci. Viajo pelo pátio da casa velha, entre bicicletas ferrugentas e inúteis, pedras também esquecidas. Procuro-te no fermento dos dias agitados, em analepses sucessivas com cores empalidecidas. Agora passo junto ao jardim onde repousas sem parar, com medo de uma vez mais contemplar o teu silêncio vazio. Nunca mais.
rodriguez 2012

domingo, 30 de setembro de 2012

OUTONO


Sentido agudo perpassa a matriz da alma
Alada
Que já não se ergue
Porque pesa e é semente demente.
Ânsia doente na cinza da claridade outonal
Tudo é nada, amor alado mudou de lado
E é vida arrastada pela borda da estrada que leva cansada
Um corpo opaco.
Seiva espessa invade a cabeça e cérebro mole no sono se enrola
Enrola…

É como a gaiola do pássaro indiferente
Cujo método maquinal amarelo normal
É sombra de vida

É vida sombria
É alma vazia.

rodriguez 2010

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Palingenesia II

Interroga-se o porquê da leviandade, da insegurança, da fuga ao direito. Espremem-se vidas que num ápice se esvanecem num pôr do sol tardio mas repentino. Anseia o peito pelo oxigénio escasso, moribundo, ténue como a chama do pavio estreito. Cerca o coração a grade dolorida que é a cor da vida. Vida quebradiça.
Subitamente tudo abana, até o júbilo ávido de chegar ao lar. Altera-se o rumo e o plano rotineiro delineado. Vacila o direito mentalmente moldado pelo grupo. Treme o peito. Soluça pelo leito adormecido e pelo sonho leve que se torna gigantesco pesadelo. Assombra o medo. A vida termina na vida de quem periga. Um acaso imprevisto que altera a trajetória e a rende perante o abismo.
Renasce certeiro o plano primeiro. Formula um jeito mais sério de ser. Era um dia tão normal que se tornou num ocaso atmosférico infernal. O beijo da morte é lúgubre, atira com o peito ao pó terreno. Depois vive-se em transe até a rotina esbater o trauma até à mera lembrança. Assoma a horrenda compaixão pelo ego. Lacrimal ensejo a rojar um estado absurdo e humanamente quebradiço, lentamente delinquindo até à vertigem do sacrifício.
Rodriguez 2012

sexta-feira, 13 de abril de 2012

sombras sangue

Não somos mais que uma sombra morta que caminha sob aquele sol sobre vidros partidos e pregos invertidos
E, apesar dos saltos de dor, inconformismo, impaciência
Os pés continuam a sangrar

sábado, 17 de março de 2012

......................................

De repente. o corpo fraqueja e a mente submerge num oceano de tristeza. Falha no percurso, atalho que revela labirintos de precipícios. bordados aqui e ali de veludo frágil. Todo o horizonte tem escarpas de lâminas invisíveis que penetram a carne e atingem a alma. A saudade. aperta um peito dormente. Melodia ausente. O amor é falho de amor. Rotina escaldante. que arrefece ao som do tédio. Tic-tac-tic-tac. Seguir até à morte numa sorte alienada e prisioneira do comodismo. Sentido não há. “Sabes como naquela noite em que dançaste ao som do homem das estrelas…”. O senhor morreu. Agora curvo. diante do monstro opressor que é o tempo enfeitiçado pelo retorno. Eterno. Moribundo. Se me dizem que vá, eu vou, se me dizem que fique, eu fico. E fico, e fico, e fico. Amanhã expludo em felicidade efémera mas terna. Retorno.

sábado, 31 de dezembro de 2011

UM DIA MAIS, UM DIA A MENOS

A dor ergue-se como lava de vulcão com o corroer lento do tempo. Vejo o riso do ontem submerso pela lágrima do hoje e do amanhã. Cada dia é um centímetro a menos na curvatura incontornável do arrastão colossal pedido pela morte. É a sorte dos instantes joviais que são colossais alentos de ilusão, enquanto um coração ofegante arfa pela acalmia.
Um novo ano, de 2012. Eterno retorno. Aqui na terra onde tudo converge ignora-se mundos galácticos. Porquê pensar na crise diária minúscula ignorando a poeira estrelar… onde almas omissas cantam entre amores perdidos.

Tudo permanece sem sentido. Enjeito a gravata, ajeito o cabelo para mais uma jornada maquinal sem saber para onde conduzo o esqueleto. Baixo progressivo, porque a terra emana magnetismo e procura fertilizante. Já não iludo o peito com hipotéticas primaveras ou promessas egocêntricas sinceras. Um bem-estar conquistado ao quotidiano hipnótico. Matriz de rotinado bailado. Ouço notas belas, guitarras esquecidas pelo vulgo. Pedaços de um passado inexistente fora do meu horizonte.
Um dia mais num ano mais. Sempre a dor maior, a descida… já não sou Ícaro insano, antes Orfeu mundano. Mas o doce embalar da mente derrete o gelo sempre presente. Novo Ano e novo suspiro, agora bem conseguido.
Um dia mais , um dia a menos.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

CITADAS LATITUDES DO AMOR

"...Passou tempo e eu não esperava que, um dia, chegasses. Mas passou tempo. Um dia, chegaste.
Caminhávamos na rua. Eu pensava em qualquer coisa que não era a ideia de chegares,
como uma avalanche que arrasta tudo à sua passagem, como uma multidão a pisar cada pedaço
de terra. E a rua ficou deserta quando nos aproximámos. Éramos desconhecidos no instante
em que olhámos um para o outro. Passou esse instante e, dentro de nós conhecemo-nos.
Chegaste. Eu não te esperava. Contigo trouxeste a ternura, o desejo e, mais tarde, o medo.
Chegaste e eu não conhecia essa ternura, esse desejo. Em casa, no meu quarto, neste quarto,
revi os teus olhos na memória, a ternura, o desejo. E, depois, aquilo que eu sabia, o medo.
E passou tempo. Eu e tu sentimos esse tempo a passar mas, quando nos encontrámos de novo,
soubemos que não nos tínhamos separado..."
José Luis Peixoto

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

PERFECT LOVE SONG

I could take all the craziness out of you
That's what I loved you for
Take away all the orange, greens and blues
That's what I loved you for

you said
Take a look at me
You think it really could be that easy?
come on, take a look at me
You think it really could be that easy for you?

I know about guys, I know where they live
And i am just the same
The ones that matter fight against themselves
But it's so hard to change
Hey, I could love you
Take all that love away from you
Hey, I could love you
Put you in this box I've made for two

So you could take all this craziness out of me
That's what you love me for
Well, I don't mean to laugh
But if you know all this
You must be halfway there

Well, like that dress tonight, you won't know as it falls from you
Turn around and it's winter, darling
Look in the mirror and it won't be you

cos i am another dog
I've been around the block
So many times
And it's the same old turns
Same old feelings straight down the line
Yeah, I can love you
Grab that leash and drag you to a place you'd never known
I know where my bones are buried
May take me a while, but I'd find my way home

(BURIED BONES, by Tindersticks)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

prefer a feast of friends to the millionaire solitude

Desço a calçada ardente olhando o casario doente. Um pedaço de lixo esvoaçante provoca arrepio pela dança que transporta a impressão do gesto humano e sua presença térrea. O som do auto rádio é belo, semente de amargura sentida, um veludo que roça a alma. E vou por ali abaixo olhando o passado de peças de puzzle desencaixadas e à espera de harmonia. Às vezes sinto-me feliz, porque alguém me sorriu com vontade. Mesmo naquele momento. Foi lindo.
Outras choro por dentro, onde por fora sorrio. É sempre assim. Um dia vou dormir e depois o sorriso eterno mais não será que ironia vã. Quem deixei para trás talvez não merecesse outra coisa. Quando me dizem que lhe dêem um punhado de notas e farão uma fortaleza à prova de dor, um mundo de felicidade e amor, penso que é sim, talvez eu fizesse o mesmo! Mas depressa me baixo sob o peso do sol ardente. Curvado perante o vazio que é a incompreensão. Ansiando por abraço antigo, por palavras de amigo.
Prefiro o sonho de alguém que me afague a nuca, por entre uma música que flutua entre sussurros. Sorrisos mudos. Sinceros e cúmplices olhares, ternos esgares… sonho a liberdade de um peito cheio de ar numa manhã de visitas surpresas, alegria sobre as mesas numa comunhão de afectos que não é falsa, é feliz. Sonho ser homem que não pede perdão por respirar mais alto, não se curva à espera de reconhecimento do global conceito.
Acordo e a vida recomeça. Mais um dia, mais uma luta. Um dia será assim.

sábado, 18 de junho de 2011

flashes intermitentes

Quando uma trégua é embalada por um esgar rosado

Perfeitos flashes que prolongam anseios saboreados

Ao som da vela clamorosa que assombra uma janela abismal

Sorriso maquinal

Às vezes é térreo o sabor ingénuo

Outras… derrete semblantes maquiavélicos

Sempre a fustigar anseios de acalmia

Magia sombria na noite fria e cansada

Esperando o nada

Supero temporais amargos até quando cansado estarei deitado no gelo improvisado

E folhas húmidas trarão uma gratidão dissimulada, talvez um choro sincero

Afagar-me a face escura, Perfeita metáfora da amargura

Virá como trem que chega um instante avante

E deixa um passageiro errante

No porto onde espera ainda pelo suspiro profundo, sentido, do mundo

Onde ainda merece uma prece.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

praying lyric

Come to me, oh sacred woman in the red dress
Be my guest in this night of rain
Hide the pain, spread the rain

You, my popcorn dream in the bitter nights
Rise the sun when the moon is hiding its eyes
Hide the pain, spread the rain

Be wild, be insane
Falling tears, pleasure fears
No more in the sun
Regain my heart, please do not fall apart
Hide the pain, spread the rain

Don’t let me cry in vain
Be the treasure of my never-ending sadness
Carry my eyes from this valley of darkness
Take my pain, make me sane.

terça-feira, 13 de julho de 2010

FINAL ÉPICO DE LOST

Jack Shephard tinha que ficar com o papel preponderante no desenlace, porque era a personagem consensual (o abraço de Sawyer, único ao longo de toda a série, comprovam-no por inteiro). Autêntico pastor de homens, conduziu o seu rebanho e “salvou-o” através da manutenção da Luz, uma luz divina símbolo teológico onde cada um busca a paz.
Explicação: O mundo paralelo do “mundo real”, onde as personagens mergulharam após a explosão provocada pelo mesmo Jack não tem tempo, é composto por uma acção que funciona como um purgatório bíblico, onde se resolvem as coisas mal resolvidas das vidas. A Ilha… bem, a Ilha parece um autêntico “centro de comando”, génese de um mundo real com sombras (Platão e a Alegoria da Caverna?), mas um centro de comando que parece também ele orgânico. Como diz Christian (metáfora de Cristo) a Jack na sacristia, “o mais importante da tua vida foi o tempo que passaste com essas pessoas”.
Final: o espectador chora, não porque tenham surgido as revelações bombásticas, mas porque passou 6 anos a acompanhar os dramas daquelas almas perdidas. A técnica narrativa é só por isto excelente: todos esqueceram as explicações que esperavam, porque a paixão não se explica. O Bem triunfou sobre o Mal. O pastor afastou o Fumo Negro do seu rebanho no epílogo de uma luta excelsa entre Deus e o Diabo. A Luz foi preservada e as almas puderam enfim partir em paz.
A cena penúltima dificilmente poderia ser mais bem conseguida e arquitectada: uma Igreja irradiante de luminosidade, a alegoria da entrada no Paraíso. O reencontro entre os amigos verdadeiros numa epifania magistral de sentimentos de lágrimas flutuantes. A redenção de Ben depois de múltiplas metamorfoses é outro dos pontos altos do final, além, claro da assunção definitiva de Kate do seu amor a Jack, a componente romântica central da série.
Tal como durante o período-escotilha, Desmond tem papel fulcral na manutenção do Bem que emana da Ilha. Ele é “activador” da mortalidade do Locke “possuído”, bem como o Mercúrio que convoca os protagonistas para o Concílio final, como um mensageiro de um Deus Maior, que perfaz milagres e dá segundas oportunidades aos pecadores.
Excelente final.

terça-feira, 11 de maio de 2010

CHAGAS



O Grito, 1893. Munch

Caminho ausente sobre o fogo do presente
Pisando folhas azuis onde caíram chuvas salgadas naquele tempo de céu rosado
A silhueta que segue curvada é rainha do nada, sempre solta, sempre aguda
Escavando na alma chagas e no peito grutas sem fundo
Este mundo.
A beleza é finda, o fogo extinto
Certeza fugidia
Evadiu-se a alegria sadia
Como aquela visão que tive um dia
Eis a presente cegueira.
Porque é o pesar que me conduz pelas chuvas azuis
Folhas salgadas afundam-se em pauis
De afagar ânsias moribundas
Melancolias profundas.
Sentado olho o telhado de uma casa que já foi feliz
Daqui não vislumbro a raíz
Fantasma sigo. Sombra.
Baloiçante na espuma dos dias. Amanhã. Outro suspiro.
A amarga fé em renascer persigo.

Março 2010

quarta-feira, 28 de abril de 2010

CLUBITE AGUDA

O Benfica vai ser campeão, parabéns. Mas não é nada de especial, depois de anos a penar, até confesso que gosto de ver os lampiões todos lampeiros e eufóricos a degustar o sabor da vitória como se fosse inacreditável para tal clube chegar ao topo da classificação, como se fosse mesmo a primeira! Deste trono privilegiado onde o portista se senta, olho em volta pelo estatuto que o meu clube ostenta de títulos e títulos aquém e “além mar”; rio-me eu até por vezes perante tal “pobreza” de festejar tanto e tanto quando nem sequer se é totalista da Champions, apenas se ganhou um simples campeonato. Mas as televisões andam loucas de ansiedade, o Record vende páginas e páginas com a ida ao WC do David Luís, o Araújo Pereira desespera por emprego... perdão, por vestir a camisola. Resta-me ao menos o Aleixo, que penso ser portista, apesar de não ostentar.
Na verdade, regozijo-me por às vezes sentir umas saudadezinhas maldosas dessa sensação da travessia do deserto e da vitória após o jejum…terá outro sabor? Olhando para a lampionagem, creio que sim. Como não sei o que isso é desde que me conheço por nascido, pode ser que agora aconteça. Não é que eu queira, obviamente; se há coisa que não sou em regra é hipócrita, todavia penso sempre que os maus momentos têm algo de bom e após uma noite de lágrimas há sempre a bonança apregoada.
Há no entanto um fenómeno que verifico relativamente aos adeptos do clube do “regime”: as vitórias por decreto que os 6 milhões sempre apregoam quando se pavoneiam “ofendidinhos” como enganados diante das glórias do FCP. Ele é os árbitros, os apitos dourados, os não sei mais o quê. Não me lembro nunca de ver um único benfiquista a admitir que o FCP foi melhor e isso é o não saber perder, como aquela mentalidade mesquinha portuguesa de se conformar com o fatalismo e nada fazer para ter sucesso. A crise também está aí. Mas não é tanto esta, mas sim aquela deixada pelo coitado do jovem Sebastião, que dura desde 1578. Mas por que raio haveria um rei teenager de ganhar uma guerra qualquer no meio dos desertos, quando nem sequer devia para lá ter ido, tão pouco a preparou convenientemente. Só pela insana vontade de dominar? Como se fosse decreto?
O Porto vai voltar a ganhar, mas para já, temos que aceitar a derrota porque eles foram melhores. Mas o século é nosso! Isso não há conselho de justiça ou túnel que nos tire.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

GRAVES

Robert Graves, o poeta, não o físico

Doença tiroideia descrita por Robert Graves em 1835, a doença de graves é uma doença auto-imune (tipo de doença na qual nosso corpo ataca a si próprio, criando auto-anticorpos). A doença pode acometer todo o corpo, mas classicamente envolve os olhos, a tireóide e as pernas (chamados respectivamente de oftamopatia de graves, hipertireoidismo e mixedema pré-tibial), apesar de ser raro os pacientes apresentarem estas três ao mesmo tempo. Aproximadamente uma em cada 1.000 mulheres apresenta a doença e os homens são cerca de cinco vezes menos acometidos. Destes pacientes apenas 5% vão apresentar doença grave nos olhos.
Muitas pessoas apresentam a doença nos olhos e exames de tireóide normais, algumas delas vão apresentar alteração nos exames depois de anos da doença e outras sempre terão exames normais. A medicina ainda não tem explicação para isto.
A doença geralmente não afeta diretamente o olho, mas os músculos ao redor dele, chamados de músculos extra-oculares. Estes músculos são responsáveis pelos movimentos dos olhos. Como conseqüência da doença os músculos ficam inflamados e depois retraem, podendo causar limitação da movimentação do olho e visão dupla ou estrabismo (quando um olho parece desalinhado em relação ao outro).

Sintomas:
Exoftalmo (olhos saltados), retração das pálpebras (também dão impressão de olhos saltados ou arregalados), olhos vermelhos, inchaço ao redor dos olhos, sensação de olhos secos ou de pressão nos olhos e, mais raramente, perda de visão e problemas na córnea. Pode envolver apenas um olho ou os dois.
Quando se suspeita de alteração ocular deste tipo são solicitados exames de tireóide e, no caso de alteração o paciente passa a ser acompanhado também por um endocrinologista.

Tratamento:
Depende da fase da doença. Remédios ajudam a controlar a função da tireóide e a inflamação dos músculos extra-oculares. Se houver estrabismo ou os músculos estiverem muito inchados pode ser necessário cirurgia para corrigir o problema. Às vezes o paciente deseja uma correção da aparência e pode ser realizada cirurgia plástica pelo oftalmologista para diminuir a aparência de olhos saltados. Raramente pode ser necessária radioterapia para controlar a glândula tireóide ou o inchaço dos músculos ao redor do olho.

clínica Belfort

segunda-feira, 15 de março de 2010

O REENCONTRO DA RACLETTE

Há muito tempo que não tinha um jantar tão marcante, porque reuniu dois GRANDES amigos de longa data, dos velhos e bons tempos de Coimbra (e também da Figueira). Um que está longe, daí a tristeza e a saudade na hora da despedida, apesar das vitórias e das medalhas; outro que está perto, mas longe também, porque nem sempre o convívio é possível com a frequência que desejaria.
(O Campeão da natação)
Enfim, a raclette e a sangria, misturadas com mais uma série de coisas bem comestíveis e outras bebíveis, bem preparadas pela Daniela, claro está, mas com a minha ajuda também, que isto é preciso ajudar as gajas porque senão depois...enfim, é uma chatice. Finalmente a recordação de velhos episódios ainda bem frescos na memória, todos hilariantes, e no final a despedida e a certeza da repetição.